CG28 | PADRE INSPETOR NOS CONTA COMO FOI O CAPÍTULO GERAL

CG28 | PADRE INSPETOR NOS CONTA COMO FOI O CAPÍTULO GERAL
18 de março de 2020 Por pauloDe volta do Capítulo, mesmo em sua quarentena, respondeu oralmente a algumas indagações da equipe do Nordeste Hoje.
NH – PE. PESSINATTI, A PERGUNTA “QUE SALESIANOS PARA OS JOVENS DE HOJE” FOI BEM RESPONDIDA PELA CG28?
PE. PESSINATTI – Claro que seria muita pretensão nossa termos respondido exaustivamente esta pergunta. Porém, considerando o clima de coronavírus que tivemos desde o começo, considerando que tivemos que antecipar três semanas do final previsto, considerando a experiência que vivemos, que compartilhamos, a convivência e o material que fomos elaborando, sim, podemos dizer que está bem encaminhada essa resposta.
O tema único do Capítulo – Quais salesianos para os jovens de hoje? – foi dividido em três subtítulos. O primeiro bloco exatamente dedicado aos jovens, à escuta dos jovens. O segundo, o tema do perfil dos salesianos, que seria, um pouco, o tema da formação. E o terceiro, o tema de uma missão/carisma, formação conjunta com os leigos.
O capítulo se desenrolou em comissões, como sempre acontece. E depois, em plenárias. Nas comissões, nós fomos convidados a pegar o primeiro núcleo (Prioridade da missão entre os jovens de hoje) nos três itens metodológicos: reconhecer, interpretar e escolher. Essas três grandes indicações metodológicas nos guiaram no trabalho. Em relação ao primeiro tema, dedicado principalmente dos jovens, nós percebemos que ali está o grande pulo que nós precisamos dar, o grande trabalho que vamos fazer: um retorno aos jovens. Esse capítulo teve como ícone a carta de Dom Bosco de 1884, a carta de Roma, onde Dom Bosco lembra com saudade os bons tempos e pede exatamente o retorno dos salesianos para o meio dos jovens.
NH – UMA REPRESENTAÇÃO DE JOVENS ESTEVE NO CAPÍTULO. QUE CONTRIBUIÇÃO OS JOVENS DERAM?
PE. PESSINATTI – Os jovens nos ajudaram e nos alertaram que é importantíssimo os salesianos fazerem essa escolha de retornar ao meio dos jovens. Os 16 jovens, divididos nas várias comissões e depois em público, disseram o que eles esperam do salesiano: um coração de pai, um companheiro, um amigo. Eles não esperam gestores de obra, grandes construtores. Eles querem gente próxima à realidade deles. Por isso, o tema que emergiu foi o do acompanhamento, sendo esta a grande estratégia que os salesianos precisam aprender e que os jovens pedem da gente. Estar junto com eles, dividir com eles os seus sonhos, na perspectiva e nas respectivas idades, mas estar com eles. Eles sentem que os salesianos estão muito atrás das mesas de escritório e por isso não conseguem habitar o mundo juvenil. Então, eu acredito que no primeiro núcleo, nós conseguimos, de forma muito satisfatória, alcançar essa resposta à grande pergunta do Capítulo.
NH – OS TEMAS DA FORMAÇÃO SALESIANA E DA MISSÃO COM OS LEIGOS CHEGARAM A BOAS CONCLUSÕES?
PE. PESSINATTI – No tema que fala do perfil dos salesianos – com o subtítulo ‘a formação que precisamos hoje’ – nós também avançamos. Adiantamos que a formação tem que ser encarnada, ter uma íntima correlação com a missão. Os estudos e sua forma organizativa têm que ter muito a ver com esta presença, com esta chamada dos jovens para uma convivência com eles. Portanto, a relação entre identidade consagrada e a formação para o carisma é um pouco a estrela que está nos guiando neste segundo tema. E aí, então, despontou como uma atitude metodológica necessária, o discernimento. Portanto, nos prepararmos para o acompanhamento dos jovens numa atitude constante de discernimento. É exatamente isso que se pretende nas fases formativas, e depois na formação continuada: a busca de acompanhamento, a busca de um discernimento da vontade de Deus. Este é um pré-requisito indispensável para a felicidade dos nossos irmãos.
E o terceiro bloco é exatamente: ‘Juntos com os leigos na missão e na formação`. Aí conectamos o apelo dos jovens, o apelo da formação, agora juntos. Foi um resgate dos capítulos anteriores: o capítulo que fala do itinerário dos jovens na fé, o capítulo que fala sobre a missão conjunta com os leigos e o capítulo que falou da consagração, a comunidade, os consagrados. Este capítulo, que nós poderíamos chamar de capítulo da pastoral juvenil, tem esse viés exatamente pragmático de animação para que possamos, acolhendo o apelo dos jovens, nos preparando de forma muito encarnada, em estruturas mais simples, com os leigos, ser um movimento forte de homens e mulheres, consagrados e leigos, a serviço dos jovens.
NH – E O CAPÍTULO CHEGOU A PRODUZIR UM DOCUMENTO FINAL?
PE. PESINATTI – O terceiro tema nós nem chegamos a lê-lo e discuti-lo em comissão. Infelizmente, nós não conseguimos formatar um texto final. Tivemos que antecipar as eleições. Tivemos que sair antes e não foi possível votar um documento fechado que deveria ser como um roteiro para o sexênio, um roteiro para a Congregação. Então, ficou combinado que o Reitor Mor, com base em tudo aquilo que foi o Capitulo e naquilo que foi condensado no trabalho da comissão pré-capitular, com a colaboração que ele ouviu das nossas comissões e que foi consignado também à comissão central que fazia a redação, tendo ouvido diretamente os jovens. .. com essas contribuições todas, o Reitor Mor vai elaborar um material que certamente será enviado para cada Inspetoria e para cada salesiano em forma de uma carta. Nós não sabemos como isso será feito. Mas, na verdade, nós capitulares delegamos ao Reitor Mor e seu conselho, o fechamento, a elaboração final dessas nossas reflexões.
NH – E O CLIMA GERAL DO CG28 FOI INTERESSANTE?
PE. PESINATTI – Está aí outro aspecto interessante a considerar na resposta à pergunta ‘Quais salesianos par aos jovens de hoje’. Ali, vivenciamos um clima muito especial. Primeiro, com 250 participantes, a cor do capítulo era multicolor. Todas as raças, todas as tribos, podemos falar assim, estavam ali representadas. O capítulo geral mostrou a verdadeira ‘multifacidade’, a multliface da Congregação. A África se apresentou de forma muito consolidada, bem como a Ásia. Nós nos mantemos como América e como Europa, mas podemos dizer que hoje há um equilíbrio “racial” muito interesse. Essa experiência de multiculturalidade, diferenciada na vivência do carisma salesiano, nas celebrações, na língua, por exemplo. Muitos já não entendem mais o italiano como se fosse uma língua oficial. A tradução foi uma exigência importantíssima. O capítulo todo era traduzido para o italiano, para o inglês, o português, o francês e uma outra língua especifica. Inclusive, existia uma tradução específica só para o inspetor do Japão que só entendia japonês. Uma experiência multicultural, multireligiosa, inclusive nas suas manifestações também.
Outra coisa foi o próprio ambiente de Valdocco. Como a gente vivenciou deliciosamente aqueles espaços de Valdocco: a própria Casa de Dom Bosco, os ambientes que estão sendo recuperados ali abaixo no subterrâneo da assim chamada Capela Pinardi, os aposentos de Dom Bosco, os lugares onde Mamãe Margarida viveu… Tudo isso está sendo reformulado, reaproveitado numa visão muito moderna da espiritualidade, não simplesmente de um museu. Então, esse ambiente que nós vivemos ali todos os dias ao lado da urna de Dom Bosco, diante do quadro da Auxiliadora, a Eucaristia também nos grupos linguísticos… Para além da produção de algum documento, de alguma orientação estratégica, nós fizemos uma forte experiência de salesianidade na diversidade mundial. O refeitório, por exemplo, onde éramos 250 pessoas, era um grande espaço onde todos os dias nós nos movimentávamos e participávamos com outros salesianos de outras raças e tribos e assim pudemos fazer uma experiência da valor universal da nossa Congregação Salesiana, além das visitas guiadas que fazíamos a esses lugares salesianos.
Infelizmente, por conta da proibição, nós ficamos mais reduzidos aos espaços de Valdocco. Estavam programadas visitas a Chieri, a Mornese, ao Colle, aos lugares externos. Só na primeira semana, aproveitamos um pouco para visitar os lugares ali de Turim, lugares significativos de Dom Bosco.
Além disso, foi um capítulo onde todas as intervenções e todo o clima eram de esperança, um clima de alegria. Em nenhum momento tivemos tensões, sejam ideológicas ou de qualquer tipo. Nas eleições, onde as coisas ainda não estavam tão claras, o próprio guia do discernimento foi muito jeitoso, e às vezes, até com certo humor, conseguiu nos conduzir a um epílogo muito satisfatório.
Por Pe. João Carlos Ribeiro.
Imagem: Flickr ANS
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