Narrativa de Pe. Valdemar Pereira

Aconteceu comigo. Morava em Fortaleza na década de 80. Na véspera de Natal (de 85) peguei o fusquinha de minha estimação às 05h00 da manhã e enfrentei a estrada com destino a Iara (447 km da capital), para ir celebrar a Missa de Natal com os meus familiares e conterrâneos. Por volta das 09h00 já tinha vencido a metade da viagem. Ao passar pelo posto Rodoviário de Icó, contemplando o casario histórico da cidade, que foi a primeira capital do Ceará, distraidamente, desobedeci o limite de velocidade, e o “fardado da Federal” apitou, três vezes.

– “Bonito, né? Encoste aí o carro!”
E eu disse: “Bonito não tanto, mas ligeirinho, é…”
E ele: “Documento, habilitação e RG…” Olhou tudo, levou-me ao escritório, e relatou ao chefão que o licenciamento do carro estava vencido e que eu tentara passar em certa velocidade. A decisão foi imediata: multa a pagar e carro aprisionado…
Mas, seu guarda, disse eu, os senhores vão deixar meus conterrâneos, meus familiares, sem a Missa do Natal, na Iara, a minha terrinha?e
– “Você é padre”?
-“Sou, padre, sim”! Um ligeiro silêncio, e o chefão disse: “Minha sogra é muito católica e me deu de presente essa cruzinha (e foi tirando-a debaixo da farda) para eu usá-la. O senhor pode benzê-la, aqui mesmo, ou só na igreja”?
Eu falei: aqui mesmo, na hora! E os quatro tiraram os capacetes… E eu caprichei na bênção! Elogiei a árdua missão deles, como policiais e “anjos da paz nas estradas”. Por fim, desejamos, mutuamente, um FELIZ NATAL e fomos liberados, o fusquinha e eu!