Cuida dele!
31ª Semana Mundial do Enfermo

Pe. João Carlos Ribeiro, sdb

A cada ano, a Igreja vem incentivando a atenção aos enfermos. Coisa necessária em nosso mundo, em que, em nossa correria, estamos descartando de nossa preocupação os mais frágeis e sofredores.

Uma grande oportunidade para a Igreja incentivar o cuidado com os doentes vem da festa de N. Sra. de Lourdes, uma aparição de N. Sra. na França do século XIX, que continua a ser um sinal de bênção e cura para os doentes.

Neste ano de 2023, a mensagem do Papa Francisco toma uma palavra da parábola do Bom Samaritano: “Trata bem dele”. A parábola tem uma grande lição para os nossos tempos, tempos marcados por uma cultura de descarte das pessoas. Quem não produz ou não consome é tratado, no sistema, como um peso e é abandonado, deixado para trás. Seus parentes, seus amigos e até sua igreja… cada um continua correndo para resolver sua vida e esquece quem ficou desempregado, quem envelheceu, quem caiu doente.

A corrida individualista pelos próprios interesses acaba por produzir pessoas indiferentes ao sofrimento dos outros. Na parábola que Jesus contou, seguindo todos pela mesma estrada, duas pessoas muito religiosas passaram por uma pessoa espancada e caída na estrada e não deram a mínima. Continuou cada qual o seu caminho, esquivando-se de qualquer contato. Um samaritano, cidadão de outra religião e de outra nacionalidade, tratou aquela pessoa ferida como um irmão. Socorreu o homem e o deixou numa pousada para continuar a ser cuidado, pagando pelo serviço. A diferença de comportamento ficou clara: o samaritano agiu com compaixão. Os outros, com indiferença. O bom homem preocupou-se com o cidadão assaltado e espancado, interrompeu sua jornada, passou por cima de preconceitos e cuidou do seu irmão. O que ele disse ao dono da pousada, ficou gravado: “Cuida dele, e o que gastares a mais, eu te pagarei quando eu voltar”. “Cuida dele”, é o tema desta Jornada Mundial do doente.

Em sua mensagem para esta data, o Papa comenta que, na enfermidade e também na velhice, fica exposta a nossa fragilidade. Ele escreveu: “A doença faz parte da nossa experiência humana. Mas pode tornar-se desumana, se for vivida no isolamento e no abandono, se não for acompanhada pelo desvelo e a compaixão”. Quando caminhamos juntos, um se sentindo responsável pelo outro, quando um fraqueja por qualquer razão, os outros o apoiam, o ajudam, o acompanham. Assim, a pessoa não se sente só, mas fortalecida, facilitando até o seu processo de recuperação. E fraquejamos por muitas razões: crises, doença, desemprego, perdas de entes queridos, momentos de turbulência. Se caminhando juntos (é isso que é sinodalidade), cuidamos uns dos outros.

A mentalidade individualista e de descarte de quem não pode caminhar no mesmo passo não é só dos parentes, vizinhos, membros de sua comunidade eclesial. Essa mentalidade pode ser também do próprio doente ou do idoso. Não quer ser peso para ninguém, tem medo de perder a sua autonomia, sente invadida a sua privacidade… assim, não procura ajuda ou a recusa, fazendo-se de forte. Também o doente precisa reconhecer sua fragilidade e buscar e aceitar ajuda. Mas, mesmo se não a procurar, isso não é desculpa para o ignorarmos, para o esquecermos, para condená-lo ao isolamento e à solidão.

Continua ecoando o exemplo e a palavra do bom samaritano: “Cuida dele!”.

Leia a Mensagem de Sua Santidade Papa Francisco para o XXXI Dia Mundial do Doente: https://is.gd/aDT4Vi