COMUNICAÇÃO | Na Fazenda da Esperança

COMUNICAÇÃO | Na Fazenda da Esperança
2 de julho de 2021 Por pauloO bispo emérito de Caruaru, Dom Dino Marchió, 78 anos, escreveu um livro contando sua vida e sua trajetória missionária. Por 16 anos, o jovem padre italiano foi pároco em Palmares, PE, onde residia minha família. Nas férias, eu era sempre requisitado para ajudá-lo em sua dinâmica agenda pastoral. Desta feita, a ajuda solicitada foi participar cantando no programa especial em que lançaria o seu livro “Viver é mudar”.
O lançamento, em programa especial transmitido pela Rede Vida, na noite de sábado passado, 26 de junho, foi feito na Fazenda da Esperança de Guaratinguetá, no Vale do Paraíba, estado de São Paulo. E o porquê na Fazenda da Esperança: pela história de proximidade e apoio do prelado com este movimento e pelo estúdio de TV que a Fazenda-sede dispõe, com transmissões regulares para a Rede Vida.
A ida a Guaratinguetá, com o maestro David que me acompanhou ao violão, foi a oportunidade para conhecer, de perto, esta iniciativa que se apresenta como uma comunidade terapêutica voltada para a recuperação de jovens e adultos com problemas de álcool e dependência de drogas. Na verdade, hoje alarga-se também para o atendimento a idosos, moradores de rua e outros grupos em extrema vulnerabilidade.
O lançamento inscreveu-se nas comemorações dos 38 anos de existência da Fazenda. Pela manhã, houve Missa transmitida pela televisão (celebração das 7 da manhã que integra a programação da Rede Vida), no Santuário da Esperança, na Fazenda da Esperança de Pedrinhas, aos pés da Serra da Mantiqueira.
Pensando no público do rádio, fiz entrevistas com o Frei Hans e o Sr. Nelson, seus fundadores, e o bispo Dom Dino, e escrevi uma “mensagem”, como abaixo se lê.
Uma obra que responde às urgências do nosso tempo. Uma iniciativa onde se sente a mão de Deus.
A FAZENDA DA ESPERANÇA
A Fazenda da Esperança começou como uma resposta a um jovem que pediu ajuda para se libertar das drogas. Um jovem cristão se sensibilizou com esse pedido angustiante e, com o apoio do seu pároco e de outros jovens, começou acompanhar os jovens em sua própria casa. Aos poucos, a resposta foi se estruturando, envolvendo pessoas, se espalhando. Passados 38 anos, a Fazenda está acompanhando mais 4.000 recuperandos em 154 unidades, espalhadas em mais de 18 países.
O local de nascimento da fazenda é Guaratinguetá, no vale do Paraíba, em São Paulo, pertinho de Aparecida. O jovem sensível dos inícios chama-se Nelson Giovanelli. O pároco que abraçou com Nelson a causa da recuperação dos dependentes químicos é Frei Hans Stapel, frade franciscano. São os fundadores da Fazenda da Esperança. Daqui a poucos dias, os dois começam a percorrer as fazendas que estão na Europa, na Ásia e na África.
O processo de cura dos dependentes é simples e exigente. Trabalho, Convivência e Espiritualidade. O trabalho educa para a responsabilidade e contribui para a desintoxicação. “Sem trabalho, não há recuperação”, ouvi repetidamente Frei Hans dizer. Cada um deve providenciar a sua estada, por meio do seu trabalho. Ganhar a vida com o suor do seu rosto é a primeira lição da vida adulta. As fazendas oferecem muitas possibilidades nessa área: agricultura, artesanato, padaria, manutenção das casas e da fazenda, criação de animais, etc.
A convivência refaz os laços de amizade, de confiança, de família. Para isto, os recuperandos moram em grupos, em casas separadas. Em cada casa, há um responsável, alguém com experiência, que já passou pelos 12 meses de internação. Em cada casa, o grupo responde por tudo na manutenção, limpeza, cozinha, lavanderia. A convivência na casa e na grande comunidade da fazenda, à moda de uma grande família, é terapêutica. Muitos fazem a experiência da fraternidade, do amor em família pela primeira vez.
A espiritualidade abre os jovens para o sentido da vida e para o encontro com Deus. Todos os dias, os jovens acolhem uma palavra do evangelho para ser vivida. É a palavra de vida do dia. Ouvem o evangelho, refletem, praticam. A oração acompanha o dia. A missa diária e o terço mariano são momentos fortes de celebração da fé. No sábado, tem também a Adoração Eucarística. Incentiva-se a vida de oração pessoal, a confissão, a comunhão. É preciso curar o corpo e a alma.
E a família não fica de fora do tratamento. Busca-se reatar e reforçar os laços com a família. Na manutenção do jovem ou da jovem, a família participa, todos os meses, com a venda de produtos que integram uma cesta com produtos da fazenda (tipo: água sanitária, kit padaria, kit artesanato, etc.). A visita é mensal, exceto nos primeiros meses, quando o recuperando precisa concentrar-se nos primeiros passos do tratamento. Uma parte das vagas é reservada a jovens sem vínculos de família, apoiados por projetos.
O resultado é impressionante: homens novos, mulheres novas. Cheios de vida, de sonhos e de fé. E, ao deixar a Fazenda após 12 intensos meses de trabalho, convivência e oração, integram-se nos grupos de Esperança Viva, grupos externos que acompanham a sua reinserção social.
O coração do movimento é a família da esperança, jovens e adultos, solteiros ou casados, unidos pela mística do serviço da recuperação dos dependentes, vinculados à comunidade por promessas ou consagração.
A fazenda da esperança é também um projeto de Deus para a vida de muitas pessoas. E uma escola de serviço e formação para todos nós.
Por Pe. João Carlos Ribeiro, sdb