COMUNICAÇÃO | P. Gildásio Mendes, Conselheiro Geral para a Comunicação Social, fala de seus dois novos livros sobre Dom Bosco
COMUNICAÇÃO | P. Gildásio Mendes, Conselheiro Geral para a Comunicação Social, fala de seus dois novos livros sobre Dom Bosco
Comunicação 16 de setembro de 2024 Por paulo
Padre Gildásio, por que lançar ao mesmo tempo dois livros sobre Dom Bosco?
Trata-se de dois textos diferentes, mas complementares, cada qual com suas particularidades; e dedicados aos sonhos de Dom Bosco.
“Como se visse o invisível” é um livro que fala da espiritualidade de Dom Bosco através de nova perspectiva, estabelecendo uma relação com a figura bíblica de Moisés. Desta forma, busquei retomar a história do ‘Sonho dos Nove Anos’ de Dom Bosco fazendo um paralelo com Moisés, um peregrino a caminho da “terra prometida”. O texto se compõe de parágrafos breves, com pinceladas claras que nos transportam para a vida cotidiana de Dom Bosco. Pode-se dizer que é um livro informativo, dirigido a todos.
Já o “|Parallels 15 e 20” fala da pedagogia de Dom Bosco, dos seus critérios formativos, do Sistema Preventivo, da sua visão educativa, a partir da sua perspectiva geográfica do mundo. Dirige-se a um público mais especializado – acadêmicos, pessoas do mundo da cultura, da pesquisa, da ciência – visando estabelecer um diálogo a partir de Dom Bosco e de sua maneira de pensar – visual, gráfica e, neste sentido, absolutamente moderna. Poderíamos dizer que os dois livros são um par de asas para voar com Dom Bosco.
Como nasceu o livro “Como se visse o invisível”?
Comecei a escrevê-lo no trem, durante uma viagem entre Roma e Turim, durante o recente curto período em que o Conselho Geral se estabeleceu em Turim-Valdocco. Queria conhecer melhor Dom Bosco e saber como ele realizava, interiormente, o esforço de concretizar o sonho de Deus a seu respeito. A ideia surgiu durante uma pesquisa sobre Dom Bosco, especialmente da leitura das “Memórias do Oratório”, de algumas passagens das “Memórias Biográficas”, de escritos de Pietro Braido, além de obras de autores mais recentes que escreveram sobre Dom Bosco.
Este texto, além de o famoso ‘Sonho dos Nove Anos, dedica grande espaço a outro sonho tido por Dom Bosco em 1844, já jovem sacerdote. Por quê?
Todos nós conhecemos o ‘Sonho dos Nove Anos’; mas nesse de 1844 – que é sua continuação – a Senhora do Sonho dos Nove Anos exorta um Dom Bosco inquieto e hesitante, a continuar a sua atividade entre ‘lobos’, ‘cordeiros’, ‘animais’ de toda espécie. Na verdade, um dos temas básicos do livro é a importância fundamental de perseguir os nossos sonhos: viver a vida com muito amor e generosidade; dar sentido às coisas que fazemos; encontrar a essência do nosso coração; lançar-se sempre a novos horizontes… Dom Bosco, que nesse momento se encontrava sozinho, por entre incertezas, incompreensões e até problemas de saúde, era um novo Moisés, em constante busca da Terra Prometida: foi a sua realmente uma “peregrinação”, seja interna, para enfrentar as suas dúvidas, seja concreta, em busca de um lugar fixo para os seus já mui numerosos ‘filhos’.
No mesmo texto, o senhor aborda um aspecto pouco, ou quase, desconhecido da vida de Dom Bosco: sua hospitalidade. O que nos diz a esse respeito?
Esta é, na minha opinião, uma das particularidades ‘deste’ livro – o mais difícil dentre os 25 que escrevi – , porque me exigiu uma comparação direta com todas as pesquisas anteriores sobre Dom Bosco: tratei pois de examinar Dom Bosco sob as lentes da Teologia ‘da Hospitalidade’. E vi que não tinha sido suficientemente ressaltado o quanto Dom Bosco viveu, desde criança, as dificuldades de quem precisa encontrar… hospitalidade: como empregadinho na Cascina Moglia, como barista no Caffè Pianta, como um nômade em busca de um espaço para cuidar dos seus meninos…
Pode-se dizer, portanto, que a hospitalidade é um traço peculiar do carisma salesiano?
Certamente! Porque todas essas experiências moldaram Dom Bosco e permitiram-lhe identificar-se com as necessidades das massas de jovens que convergiam para Turim na era industrial. Ele compreendia aqueles jovens e, no oratório, lhes oferecia hospitalidade em sentido pleno (comida, repouso, família, trabalho, lazer…). Não é por acaso que em Valdocco ainda se encontra a escrita “Casa Salesiana”. É por isso que a hospitalidade, na minha opinião, é, e deve permanecer, sempre uma característica fundamental de cada Casa salesiana: praticar a hospitalidade é caridade, é viver o Sistema Preventivo. Sem mencionar que a hospitalidade é um tema que converge aos desafios da sociedade, com a espiritualidade do Papa Francisco e, em última análise, com a mensagem completa do Evangelho.
Vamos falar um pouco do segundo livro, “Parallels 15 e 20”. Por que este título e a representação de Dom Bosco rodeado por um mapa na capa?
O título e a capa pretendem remeter de forma cativante a um ponto: Dom Bosco contava com uma inteligência visual-espaço-geográfica. Ele tinha uma grande paixão pela geografia, tinha um mapa-múndi em seu quarto e, em Valdocco, pediu a um dos seus rapazes, Marchisio, que desenhasse um dos mapas mais precisos da Itália, que depois foi publicado pelos Correios. Explico no livro que foi exatamente esta forma de “ver as coisas” que lhe permitiu planejar o sistema educativo como se fosse uma grande geometria educativa e determinou a forma como organizou os seus textos, definiu o lugar do educador no espaço educativo e validou o papel da música, que é uma forma de matemática.
Então, sua perspectiva “espacial” das coisas influenciou o carisma e o desenvolvimento da obra salesiana?
Dom Bosco era um sonhador! Seus inúmeros sonhos, com diferentes interpretações, são repletos de imagens, desenhos, elementos geográficos (espaços, dimensões, relações, distâncias, correlações), elementos visuais, sons: elementos que formam um verdadeiro caleidoscópio. E esta sua ‘forma mentis’ também projetou sua perspectiva para a expansão da Congregação Salesiana em todo o mundo, bem como a estrutura típica das casas salesianas, com pátio, igreja, espaços de trabalho, salas comunitárias…
O senhor também escreveu que este texto “num mundo dominado pela ciência e pela tecnologia (…) é a sua tentativa de abrir uma ou mais portas de diálogo com as pessoas, por meio de uma perspectiva mais técnica sobre o modo de educar de Dom Bosco”. Poderia explicar melhor?
A sociedade de hoje é uma sociedade que privilegia os dados, os números, as medidas, a indução… Estamos todos imersos num mundo que não é o da metafísica, mas o da tecnologia. Para que ocorra diálogo com alguém, é preciso que haja pontos em comum. Minha intenção com “Parallels 15 e 20” é precisamente estabelecer este terreno comum, sublinhando a extrema relevância de Dom Bosco, pela consonância entre a sua imaginação espaço-geográfica e tudo o que hoje molda a nossa vida quotidiana. A partir desta afinidade, espero iniciar um diálogo com cientistas, matemáticos, especialistas e estudiosos, para talvez chegar a uma perspectiva humanista, fazer uma reflexão conjunta sobre a educação dos jovens de hoje, o sentido da vida e das relações humanas na diversidade cultural.
O livro abre, portanto, também novas perspectivas no estudo da figura de Dom Bosco?
Posso dizer que desejo abrir uma porta para este aspecto um tanto desconhecido de Dom Bosco, para que outros estudiosos e investigadores lhe possam aprofundar áreas afins.
Tudo o de que precisamos fazer, portanto, é ler esses livros. Em quantos idiomas serão traduzidos e onde é possível adquiri-los?
Alguns exemplares foram impressos para serem enviados às Inspetorias, mas também serão distribuídos em formato digital, gratuito. “Como se visse o invisível” já está disponível em italiano, inglês e português. Agora estamos trabalhando na tradução para o francês e o espanhol. “Parallels 15 and 20” será disponibilizado apenas no idioma original, inglês.
Fonte: Agência Info Salesiana – ANS