COMUNICAÇÃO | UNESCO E REDE SALESIANA BRASIL: ALFABETIZAÇÃO MIDIÁTICA E INFORMACIONAL
COMUNICAÇÃO | UNESCO E REDE SALESIANA BRASIL: ALFABETIZAÇÃO MIDIÁTICA E INFORMACIONAL
26 de março de 2021 Por pauloProssegue o encontro nacional de comunicação, reunindo os delegados e coordenadores inspetoriais de comunicação social das 10 inspetorias salesianas do Brasil (FMA e SDB), em encontro online. No terceiro dia do encontro nacional de comunicação, neste 25 de março, uma jornada especial com a presença da direção executiva da Rede Salesiana Brasil (RSB) e alguns convidados muito especiais: Prof. Adauto Soares, Dra. Leila Iannone e Lara Cristina Borges, figuras da UNESCO no Brasil.
A coordenadora do encontro, Ir. Marcia, introduziu os trabalhos do dia, lembrando o caminho que tem sido feito no mundo salesiano em relação à educação. Acenou também à possibilidade de, em futuro próximo, poder haver algum compromisso de maior aproximação e parceria com a UNESCO. Aos convidados, a irmã apresentou a Rede Salesiana Brasil, com suas 106 escolas, 109 unidades sociais, 13 instituições universitárias e 11 instituições de comunicação social.
Os convidados tomaram a palavra. O Prof. Idauto Soares se disse impressionado com a rede, pela atenção à educomunicação e pelo nível de utilização das novas tecnologias. Economista e filósofo, o professor atua na UNESCO na área da comunicação e informação. A UNESCO é uma agência especializada da ONU. Sua missão é contribuir para a construção de uma cultura de paz, por meio do conhecimento. A organização atua a nível mundial em várias agendas: educação, ciências naturais, ciências humanas e sociais, cultura, comunicação e informação.
Em síntese, a contribuição do professor Adauto Soares:
Em comunicação e informação, conta-se classicamente com o setor de radiodifusão (TV, Rádio, Jornalismo para imprensa) e o setor de telecomunicações (telefonia fixa, celulares, infoestruturas para dados), mas hoje, há uma convergência das mídias. Com o avanço das tecnologias digitais, temos novos desafios (bullying e assédio digital, desordem da informação, culto ao ódio, crimes cibernéticos), mas também oportunidades (inclusão digital e social, ensino remoto ou a distância, internet do bem, transparência). Para integrar tudo isso na educação formal, vê-se a necessidade de alfabetização midiática e informacional, um enorme desafio educacional. A alfabetização midiática e informacional é um currículo (vivo), para além das tecnologias de comunicação, entrando nas questões éticas, na proteção de estudantes e professores.
Dra. Leila Iannone, pesquisadora da UNESCO, falou sobre Alfabetização Midiática Informacional, a partir da relevância no currículo em tempos disruptivos. Dra. Leila identificou-se como ex-aluna do Colégio Santa Inês, de São Paulo (FMA). De longa data, informou, vem trabalhando com avaliação dos currículos.
Em síntese, a contribuição da Dra. Leila Iannone:
Disparidades existem no acesso à informação e às mídias. Com a pandemia, a situação ficou evidente. Na escola pública, foi lamentável. Essa situação tem reflexos na liberdade de expressão (silêncio das minorias), no exercício da crítica (escolhas conscientes x alienação), conteúdos para tomada de decisões (baseadas em informação x extemporâneas). As competências que precisam ser desenvolvidas, nessa área, não são só para o mundo do trabalho, mas para a vida pessoal. Precisamos de um currículo que trabalhe claramente a segurança, a integridade e a privacidade, como direito de cidadania . As novas gerações precisam ser protegidas.
O projeto de alfabetização midiática precisa promover processo de competências: autodefesa diante das culturas dominantes, por meio de discussões e engajamentos criativos; proteção da diversidade cultural, do multilinguismo e do pluralismo. No mundo, há uma grande quantidade de crianças e jovens apatridos; nós, temos as grandes periferias, as grandes comunidades. Neste sentido, a alfabetização midiática é questão de sobrevivência para o trabalho, para a produtividade cultural, para o direito de cidadania.
Estamos em tempos disruptivos. O mundo mudou. O cenário é incerto. A escola ainda é lugar de constituição de identidades, lugar de construção de humanidades. Presencial ou híbrido, nosso currículo precisa contribuir com a construção de identidades dos indivíduos, dos cidadãos. O currículo é o motor da escola, o seu coração. A escola precisa manter os seus princípios e sua finalidade. Como o mundo mudou, o currículo precisa ser revisto, em função do novo cenário.
Em tempos disruptivos, as fronteiras se abriram. Mais do que nunca as escolas precisam fazer a avaliação dos seus currículos, particularmente na formação dos professores. O mundo mudou e nós não podemos continuar a olhar com o mesmo olhar. Precisamos transformar a prática, a partir do currículo. Não apenas é necessário dominar o conteúdo, mas saber aplicar, em atitudes coerentes, respeitosas, cidadãs. Os nossos alunos precisam conhecer, aplicar, transformar, compartilhar e aprender a cuidar uns dos outros. E aqui, no nosso caso, por meio, também, as novas tecnologias. Estamos numa aldeia global. Não estamos isolados. O momento dramático que o Brasil vive tem repercussão nas outras nações.
Sobre a reorganização curricular, em tempos disruptivos, vem o tema das competências socioemocionais. Já não temos só os quatro pilares. Há um outro. Saber ser, saber conhecer saber fazer, saber conviver, saber tornar-se. Precisamos usar todo os recursos possíveis para que a esta geração e as próximas saibam encontrar soluções éticas, possíveis, colaborativas.
Depois da contribuição dos dois assessores, seguiram-se várias reações dos participantes. A Dra. Leila enfatizou novos pontos, como segue. O currículo também tem que transformar a vida do professor (visão de educação transformadora para o bem). A educação tem que transformar o professor, o aluno, a família, a comunidade. Professor como agente de transformação. A assessora dispôs-se a acompanhar a avaliação do currículo da rede. E lembrou: a educação que só faz repetição, não faz mudança, somando a uma citação do Papa Francisco por um dos presentes.
Concluindo, a Ir. Marcia sinalizou o interesse de uma maior aproximação da UNESCO. Respondeu o Prof. Adauto positivamente, indicando, no horizonte, uma possível parceria, algum projeto comum. A Ir. Sílvia, da Ação Social da rede, viu pontos de contatos muito fortes com os projetos da rede nesta área. O Pe. Waldomiro Bonakowski, diretor executivo da rede, tocou no tema da exclusão digital, referindo-se à prática de Dom Bosco diante dos desafios. A Ir. Adiar Sberga falou do escritório de Genebra das FMA com estatuto consultivo da ONU desde 2008.
O encontro conclui-se nesta sexta, dia 26 de março, com a análise do tema ‘Parâmetros institucionais de qualidade para as escolas”.
Por Pe. João Carlos Ribeiro, sdb