PADRE RICARDO | Pe. Pessinatti: Profunda capacidade de reflexão e luminoso testemunho de vida
PADRE RICARDO | Pe. Pessinatti: Profunda capacidade de reflexão e luminoso testemunho de vida
18 de agosto de 2022 Por pauloEstimados P. Inácio e irmãos:
Em comunhão de preces e de gratidão.
Passou a vida fazendo o bem (cf. At 10,38)
Ao receber a notícia da Páscoa definitiva do P. Ricardo, sentimentos de gratidão e de saudade misturaram-se em minha mente e no meu coração como um suave bálsamo espiritual.
Como fiel discípulo de Jesus, Mestre e Bom Pastor, ao P. Ricardo podemos atribuir a afirmação de São Pedro: passou a vida fazendo o bem.
Durante a minha vida salesiana, pude desfrutar, pessoalmente, da rica presença e das palavras sábias e prudentes deste grande mestre do espírito. Suas palavras, fundamentadas e alicerçadas em sua profunda capacidade de reflexão e na luminosidade de seu testemunho de vida , eram recebidas com respeito e merecida atenção: “ele ensina como quem tem autoridade” (Mt 7,29). O Brasil salesiano ficará mais pobre; contudo seu testemunho discreto e eloquente continuará produzindo os esperados e necessários benefícios para a nossa missão juvenil.
Embora não tenha convivido com ele durante seu serviço de inspetor, ouvia que no exercício de suas responsabilidades de governo e animação inspetoriais, possuía uma postura marcada pela delicadeza, prudência e incansável capacidade de diálogo.
Durante o meu ministério de inspetor, no sexênio passado, tive a alegria e a graça de conviver e partilhar com o P. Ricardo inúmeras circunstâncias e desafios próprios deste serviço de fraternidade. Por isso, sinto a necessidade de expressar e registrar, mesmo na precariedade de minhas palavras, a grandeza deste amado irmão, unindo-me, assim, ao coro de sentimentos e palavras que ecoam e ecoarão por muito tempo.
Em primeiro lugar, partilho que conservo uma preciosa relíquia, isto é, uma cartinha manuscrita dirigida a mim, por ocasião do final do meu ministério de inspetor: um reconfortante e gratificante testemunho de fraternidade, de carinho e de bem querer.
Diante de delicadas circunstâncias, recebi, do P. Ricardo, palavras de alento e de conforto fortemente baseadas no otimismo de quem acredita na graça de Deus e na bondade da natureza humana. Jamais desanimava diante das dificuldades reais de cada irmão: tentei seguir seu exemplo.
Tinha um olhar de profunda gratidão para o passado, sem deixar de expressar seu julgamento evangélico em relação às atitudes e decisões que poderiam ter sido melhores: não julgava as pessoas, mas sabia avaliar, prudentemente, encaminhamentos feitos de forma equivocada. Ao mesmo tempo, sabia valorizar, com expressões sinceras e encorajadoras, a todos que merecidamente faziam jus ao seus elogios: servo prudente e fiel, posto à frente de seus irmãos. E quando tinha alguma crítica a fazer, burilava as palavras, procurando expressões que não fossem mal interpretadas.
Até os últimos dias, sua dedicação pastoral revelava sua entrega total e incondicional. Estava sempre disponível e atento para celebrar, atender confissões e acolher as pessoas. Suas homilias eram preparadas com esmero e atualização: amante da Palavra de Deus.
A vida comunitária era o primeiro e mais importante compromisso diário: sem estereótipos ou “cobranças” estava presente exemplar e piedosamente. Sua presença, normalmente, catalisava e ampliava assuntos e temas alegres e agradáveis durante as refeições.
Delicado e atencioso para com os irmãos visitantes; passava a agradável sensação que estava nos aguardando. Procurava antecipar oferecendo suas delicadezas de fraternidade.
Todos podem testemunhar a dedicação e a competência no exercício dos mais variados serviços prestados na inspetoria. Deixa um legado muito especial como reconhecido “secretário”: capítulos, assembleias, arquivo e secretário inspetorial.
Sua humildade revelada no cuidado pessoal de suas “coisas” e de seus compromissos, era edificante. A organização de seu quarto e escritório era um verdadeiro sacramento de sua forma de ser e agir. Evitava qualquer palavra ou atitude que apontassem para os méritos de sua pessoa. Nos últimos anos, tomava nota de cada compromisso: para não esquecer e não atrapalhar ninguém. Quantas vezes, à mesa, no final das refeições, expressava “certo espanto” ao perceber que alguém retirava o prato e os talheres utilizados. Mesmo na doença, fazia de tudo para evitar qualquer incômodo às pessoas
A paixão filial que cultivava por Dom Bosco fez dele um Mestre de espírito e de salesianidade. Isto afirmamos não somente por conta do ministério exercido como mestre de noviços, mas, também pelas suas orientações, intervenções e colaborações em inúmeros retiros, assembleias, capítulos e reuniões comunitárias.
Homem sintonizado com seu tempo, soube valorizar a cultura do nosso povo e acompanhar corajosamente os exigentes momentos eclesiais, revelando seu amor e a sua profunda comunhão com à mãe Igreja.
Ciente de que estas pobres palavras jamais poderiam expressar a beleza desta vida iluminada e carismática do P. Ricardo, reafirmo, contudo, meu carinho, minha amizade, minha admiração e uma grande saudade deste irmão santo e sábio. Seu testemunho reafirma nossa crença na consagração salesiana.
Ele vai continuar cuidando de nós e de nossa Inspetoria.
P. Nivaldo Luiz Pessinatti, sdb – 15 de agosto 2022.