REFLEXÃO | Para mim, não pode haver festa maior!

REFLEXÃO | Para mim, não pode haver festa maior!
17 de março de 2020 Por pauloDurante os dias antecedentes ao carnaval, foram inúmeras as postagens nas redes sociais e ambientes jornalísticos admoestando os tantos foliões quanto ao consumo moderado de bebidas alcóolicas, à prevenção de doenças sexualmente transmissíveis ou ao risco do tão perigoso Coronavírus. Somando com essa ideia, alguns cristãos, sejam católicos ou de outras expressões de fé, aproveitaram a mesma ocasião para depreciar a festa, afirmando que seria mais uma ocasião de perdição ou deturpação de valores. A todo esse turbilhão de informações se junta a possibilidade de uma escola de samba no Rio de Janeiro utilizar em seu samba enredo a mais ilustre das pessoas: Jesus Cristo encarnado na figura de alguém marginalizado. Que grande escândalo para alguns! Que grande reconhecimento para outros!
Porém, me chamou a atenção e, mais precisamente, me comoveu o fato de que os Salesianos de Dom Bosco em São Paulo possuem, no bairro popular de Itaquera, Zona Leste, uma escola de samba que reuniu mais de 800 jovens no Anhembi, participando do desfile do grupo de acesso 2. Vale ressaltar, desde já, que essa iniciativa vai muito além de uma obra social caritativa como as tantas que os religiosos promovem. Pois vale salientar que essa mesma escola de samba se difere das demais, não somente por iniciar seus trabalhos com uma oração, ou por ser regida por uma instituição religiosa, mas pelo fato de conseguir a maior das conquistas: oferecer a cada um dos seus destinatários a possibilidade de formar consciências na liberdade de cada um; permitir que cada um seja livre para escolher aonde se deseja chegar para concretizar um projeto de vida. Isso me fez pensar naquilo que afirma o apóstolo São Paulo “…tudo é vosso. Mas vós sois de Cristo e Cristo é de Deus” (Cf. 1 Cor. 3, 22b-23)
Fugindo de um caminho marcado pelo pessimismo e desvalorização do que é expressão cultural, a nossa escola de samba Dom Bosco de Itaquera, trouxe para o sambódromo não somente o enredo “O importante é que emoções eu vivi”, mas também a alegria de estar na presença de Deus, sem precisar desvalorizar nenhuma das outras escolas que também estavam buscando seu lugar no carnaval e, consequentemente, uma boa pontuação. Renunciando a utilização de roupas que desvalorizam o jovem por meio de uma exposição e excessiva sensualidade, a nossa escola apresentou aquilo que já no século V São João Crisóstomo convidava a perceber, salientando que a alegria é dom de Deus e que “… a beleza dos elementos postos a nosso serviço requer da criatura racional uma justa ação de graças” (Cf. Liturgia das Horas Vol. II p. 50).
O mais significativo foi também perceber a presença de tantos sorrisos estampados naquela madrugada de Carnaval. Sorrisos motivados pela alegria de participar e de estar juntos, ao contrário de tantas outras expressões que têm como fundamento o consumo excessivo de álcool ou o estrondo de músicas ofensivas e repletas de desprezo ao outro. Foi bonito constatar a alegria dos salesianos que lá estavam participando do desfile (dentre os quais o fundador da escola Pe. Rosalvino Morán- SDB), bem como de outros membros da família salesiana, e dos jovens que são o lugar teológico onde encontramos Deus.
Todo esse contexto nos faz recordar aquilo que nos diz a nossa tradição salesiana quando relata que em uma das viagens de Dom Bosco, quer fosse pelas tratativas com a Santa Sé, quer fosse em busca de donativos para suas obras, o padre dos adolescentes precisou se ausentar do Oratório para alcançar seus objetivos. Enquanto estava fora, os jovens se empenharam para preparar uma festa de acolhida àquele que lhes era um verdadeiro pai. Em seu retorno, Dom Bosco ficou tão emocionado ao vê-los todos reunidos na capela, chegando a afirmar o que o Padre João Carlos transcreveu em uma de suas canções “Para mim não pode haver festa maior, ver você se aproximando do Altar, desta mesa que é a ceia do Senhor! Para mim não pode haver festa maior!”
Com plena certeza, jamais ele imaginou que o nome do “Grande Dom Bosco” chegasse aonde chegou! Das mais difíceis regiões do planeta, até a um desfile de carnaval, fazendo sorrir esperanças, construindo valores, no altar da vida e no seu contexto. Com toda certeza, o sonho de Dom Bosco emerge criatividade naqueles que se dispõem a ser seus colaboradores. Para esse tipo de proposta, ele mesmo nos repete “Para mim não pode haver festa maior”.
Por S. Paulo Henrique –SDB
(Aluno do Instituto Teológico Pio XI em São Paulo e Membro da Inspetoria Salesiana do Nordeste do Brasil)